quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ela era o tipo de garota que, numa novela, protagonizaria a mocinha; aquela que se entrega, que se machuca, que ajuda a todo mundo e nunca se ajuda. O pior tipo de mocinha, aquela que confia na menina mais falsa e que ama o cara mais galinha. Ela se apaixonava e se jogava de cabeça numa relação, in-ten-sa-men-te.  Nunca se protegia, ia sem capa e armadura... voltava sempre despedaçada. De tanto fazer o papel de mocinha, de pobre coitada, de chorar pelos cantos e de esperar demais das pessoas ela CAN-SOU. Ela levantou dos cantos, limpou o rosto e retocou a maquiagem. Trocou de papel com a bandida. O coração que antes era do tipo maria-mole se endureceu, se protegeu e se envolveu por uma camada de espinhos que só os realmente corajosos arriscam se aproximar. Ela parou de ficar em casa enquanto “ele” curtia, ela parou de fazer planos pro futuro com “ele”, ela parou de agir como uma menina boa e resolveu ser uma menina má, porque no final da noite, são das garotas que não prestam que eles lembram. Não são as garotas doces e românticas que fazem qualquer um perder o sono e desejar que o celular toque e que seja ela. Na real, eles gostam das mulheres independentes, das que não precisam de ninguém, das que são difíceis não por charme mas por realmente serem difíceis de serem conquistadas. Quando os amigos perguntam sobre uma mulher que é inesquecível pra “ele”, “ele”, involuntariamente, vai lembrar da mulher que pisou e o machucou por não ser a garota boazinha do final de tarde de domingo que assiste filme de romance antigo na casa dos avós. Ele vai lembrar da mulher que disse “não” quando ele pediu um beijo, da mulher que não ligou no dia seguinte, nem mandou sms, nem adicionou em nenhuma rede social. Ele vai lembrar da mulher que no dia seguinte em que se conheceram a viu com outro na rua, dando os mesmos sorrisos que na noite anterior ela dera pra ele. Ele vai lembrar da mulher de salto alto, vestido colado e cabelos ao vento que na pista de dança – mesmo no meio de uma multidão – se destaca e provoca olhares maliciosos e bocas famintas. É dessa mulher que ele vai lembrar e vai ligar, num sábado a noite - que depois de muito tempo curtindo - passou em casa desejando que ela estivesse lá com ele... e onde ela está? Curtindo a noite mais badalada da cidade que não dorme.

Ele não vai pensar duas vezes e vai discar o número dela.

Ela vai ver a ligação e vai atender só porque não sabe quem é, e mulheres são intensamente curiosas.

Ele: Ei...

Ela: Quem é?

Ele: Sou eu, da semana passada...

Ela: Desculpa, mas não sei quem é você.

(Ele vai perceber que, pra ela, ele não significou nada e que era em vão tentar se identificar, ela realmente não iria lembrar-se dele porque ele era qualquer um, mais um.)

[...]

Ele desligou, de longe era possível notar o nó na sua garganta.

Pela primeira vez ele sentiu na pele a sensação pesada de ser rejeitado, de ser substituível e insignificante. Finalmente ele entendeu que passou a vida fazendo isso com todas as garotas que, assim como ele, passaram o sábado a noite pensando nele e resolveram ligar.

Ele se sentiu péssimo e foi dormir.

Ela desligou o celular porque não queria ser incomodada e foi curtir. A noite foi ótima.

Vez ou outra ela se sentia sozinha, vazia por não ter um companheiro pra passar o final da tarde de domingo vendo um filme de romance antigo e chorando no ombro do amado, mas esses momentos passavam. Bastava ela se lembrar do último idiota que a fez chorar e ficar presa em casa choramingando pelos cantos por ter um coração tão mole pra sensação de solidão se esvair.
A vida de bandida era mais interessante, mais movimentada e menos sofrida. O único líquido que rolava pelo seu rosto era a tequila que algumas vezes escorria pelo canto da boca, afinal, depois de umas doses ninguém mais consegue beber com classe. Era bem melhor encher a cara, curtir a noite e no outro dia acordar com ressaca – ressaca passa com água e horas de sono, um coração partido leva anos pra se recuperar (e nem sempre se recupera).